Por Fernando Brito, editor do TIJOLAÇO
É óbvio, exceto para mentes prepotentes a que nos acostumamos no caso da Lava Jato, que não se pode inculpar, com as informações que se tem até agora, Jair Bolsonaro ou seu filho na”queima de arquivo” do ex-capitão Adriano da Nóbrega.
Disso, sim, há indícios extremamente fortes, porque os relatos sobre a operação são inacreditáveis.
Imaginar que um especialista em confronto armado, como Adriano, dispararia de peito aberto contra quatro homens armados de escudos e fuzis é menos crível do que se ele praticasse o suicídio. Tiros de fuzil, a cinco ou seis metros de distância teriam atravessado o corpo e marcado as paredes ou, ao menos, as deixariam salpicadas de sangue.
Isso sem contar a história de um homem que chega a um lugar – sozinho – e se diz comprador de cavalos, recebe hospedagem de um promotor de vaquejadas e que é por ele obrigado a levá-lo a uma casa semiabandonada de um vereador…
Há poucas esperanças de que estas circunstâncias sejam apuradas com isenção, uma vez que o Secretário de Segurança da Bahia e o governador Wilson Witzel já vieram, de público, dizer que tudo se passou assim mesmo, antes mesmo de que perícias e autópsia fossem feitas.
Há, porém, o lado político das ligações de intimidade entre Nóbrega e os Bolsonaro.
Mulher e filha do miliciano não foram contratadas, como alegam os advogados de Flávio, “quando ele era um herói e ficha limpa”. Elas não transitaram dinheiro pelas mão de Fabrício Queiroz para comprar copos plásticos para o gabinete, nem foram emitidas quando a coisa “fedeu” pelo caso das “rachadinhas”.
Discursos e medalhas deixam clara a relação entre o presidente e seu filho com ele, tanto solto quanto preso.
Os círculos do dinheiro, que toleravam Jair Bolsonaro como o capataz necessário, agora o aceitarão como o miliciano útil.
E os generais, antes tão ciosos de honra e dignidade, engolirão seus escrúpulos e seguirão garantindo que o “Escritório do Crime” esteja cada dia mais próximo de se tornar o Gabinete do Crime.